sexta-feira, 15 de maio de 2020

Barragens

Na gestão das albufeiras, a prioridade é o armazenamento de água para consumo humano e para a irrigação, só depois vem a produção de energia. Neste âmbito, além de ajudarem a reduzir a dependência do exterior, as barragens têm duas principais vantagens em termos de gestão energética: por um lado, injetam energia renovável nas redes elétricas e por outro, aproveitam períodos em que a produção de energia seja excedentária face ao consumo, para potenciar a produção de ainda mais energia limpa. Como?
Nas centrais equipadas com máquinas reversíveis é possível usar a energia excedentária através da bombagem: a energia que não esteja a ser utilizada na rede, pelos consumidores, é aproveitada para mover as turbinas no sentido inverso e assim voltar a encher as albufeiras de água. Essa ficará armazenada até haver um novo aumento do consumo elétrico que justifique a sua entrada em funcionamento.
Há “mil e uma” maneiras de pôr as barragens ao serviço das populações e do ambiente em Portugal. Os aproveitamentos hidroelétricos são uma fonte de energia renovável, limpa e que não produz agentes poluentes, contribuindo por isso para que Portugal atinja os seus compromissos ambientais internacionais e sendo cada vez mais uma aposta sólida para a produção de energia elétrica em todo o mundo. 
As barragens são também importantes na criação de condições de funcionamento das praias fluviais: as que estão nas albufeiras e as localizadas a jusante. 
É também frequente serem utilizadas para a gestão de caudais e de cotas das albufeiras, das mais diversas entidades, para realizar várias atividades nos rios. Por exemplo, pode haver a necessidade de lançar caudal para jusante porque vai haver uma prova náutica, uma procissão religiosa com barcos ou uma travessia do rio. 
Além dos “berçários”, existem outras formas de minimizar o efeito-barreira das barragens junto dos peixes, nomeadamente as chamadas “escadas de peixes”. Estes dispositivos permitem a circulação dos peixes entre montante e jusante (e vice-versa) das barragens onde estão instalados. Consistem em escadas, no normal sentido do termo, ou seja, uma série de obstáculos baixos nos quais o rio corre e em que a movimentação das águas chama a atenção dos peixes, levando-os instintivamente a saltar de degrau em degrau. O objetivo? Chegar às águas do outro lado e prosseguir viagem, seja para desovar ou dar continuidade à sua rota migratória. A velocidade da água que cai sobre os “degraus” tem de ser suficiente para atrair os peixes, mas não tanta que os leve a desistir e voltar para trás, em vez de continuarem a sua viagem rio acima. Estas medidas de compensação ambiental vão ao encontro dos objetivos de desenvolvimento sustentável, contribuindo para evitar ou reduzir a perda de biodiversidade, privilegiando uma gestão dinâmica, abrangente, localmente participada e de visão de longo prazo, ambicionando um balanço globalmente positivo.
Dado que a construção de barragens implica alterações ao terreno, ecossistemas e até à vida das populações, as entidades que fazem a exploração destes aproveitamentos para produzir energia elétrica, têm várias preocupações ambientais e sociais. Em conjunto com as autarquias e populações locais, são definidos planos de intervenção para minorar os efeitos da implantação das barragens, que em muitos casos vão além de simples “medidas compensatórias” - impulsionam a região, revitalizam a flora e fauna locais e trazem melhores condições de vida às populações.
A introdução de barragens em vários pontos ao longo do rio, que antes era navegável em toda a sua extensão em Portugal, trouxe um desafio: como garantir que as embarcações continuariam a fazer o seu percurso normal, havendo agora uma barragem (e um desnível gigantesco) pelo meio? A solução passa por uma obra de engenharia hidráulica impressionante: um autêntico elevador para embarcações. No caso português, existem no rio Douro 5 estruturas deste tipo, destacando-se a existente na barragem do Carrapatelo, com um desnível de 35 metros, o maior da Europa. Este “elevador” chama-se, na verdade, eclusa. Consiste num compartimento, construído de um dos lados da barragem, para onde as embarcações podem entrar de forma a serem depois transportadas para lá do desnível. O compartimento vai-se enchendo progressivamente de água que, como um elevador, vai levando a embarcação até ao topo da barragem. Em seguida, o “elevador” é aberto e o embarcação pode prosseguir viagem, já na zona a montante (logo, a mais alta) da barragem. O trajeto inverso é feito através do esvaziamento da eclusa.
Em relação às situações de seca, caso as previsões meteorológicas apontem nesse sentido, a ação das barragens é preventiva ao condicionar o turbinamento de modo a garantir reservas de água para consumo humano. Se, em situações de muito caudal, o procedimento implica descarregar quando necessário, em situações de seca existe o cuidado de acumular e não usar a água toda da albufeira. 
Em caso previsões de maiores afluências, é efetuada a modulação do caudal: põem-se as turbinas das centrais a funcionar antecipadamente para, criar capacidade de encaixe para acolher o máximo de água, efetuando-se assim o amortecimento do pico da cheia.
As barragens armazenam água que é utilizada prioritariamente para consumo humano e regadio, além de permitirem a produção de energia com a qual se abastece a rede elétrica. Mas para lá destas funções, os empreendimentos hidroelétricos acabam por servir, de outras formas, as populações e o meio ambiente.
Talvez não seja do conhecimento comum, mas as barragens desempenham um papel fundamental na mitigação das consequências de situações extremas para as populações, como é o caso das cheias ou em períodos longos de seca. Cada barragem possui diferentes capacidades, isto é, a quantidade de água que conseguem armazenar, normalmente medida em hm3 (hectómetros cúbicos - 1 000 000 m3). Por exemplo, enquanto a albufeira da Régua tem uma capacidade de 95 hm3, a do Baixo Sabor consegue armazenar 1095 hm3. É por isso que se diz que os aproveitamentos hidroelétricos desempenham uma função de “modulação” dos caudais - a quantidade de água que fica retida nas barragens ou que é libertada a jusante do rio varia consoante as necessidades e os riscos.