A opção do Montijo como destino do novo aeroporto é política e resulta de diversas condicionantes, cuja conjugação acabou
por ditar um caminho irreversível, além de que só pode ser
entendida como o entendimento da consequência de um processo que roçou a
opacidade e que conduziu o país para essa inevitabilidade, cujo processo foi integralmente conduzido pela concessionária ANA, detida pela Vinci. A engenharia portuguesa não teve oportunidade para qualquer intervenção
na avaliação de eventuais alternativas que então eram possíveis mas que o
arrastar do tempo acabou por aniquilar, pelo que a solução que agora se
encontra em processo de AIa [Avaliação de Impacto Ambiental] acabou por
inevitável e, pior, irrefutável. A alternativa do Campo de Tiro de Alcochete para o novo aeroporto de Lisboa é a mais satisfatória. Esta solução, que na altura foi politicamente aceite e considerada, é a
única que interessa ao país, porquanto permitiria a construção de um
aeroporto de raiz, com duas pistas paralelas e demais equipamentos
aeroportuários e respetivas acessibilidades e meios de acesso, que
configurariam os requisitos de um verdadeiro aeroporto internacional,
infraestrutura de que o país não dispõe e que com esta solução continuará
a não dispor. Portugal perdeu a sua soberania aeroportuária até 2062, pelo menos, ou
seja, um dos mais valiosos e importantes ativos estratégicos de qualquer
país. As contrapartidas do contrato de concessão, ou seja, as obrigações a que a
concessionária terá ficado vinculada em termos de desenvolvimento da
capacidade aeroportuária, possivelmente incluindo a possibilidade de
construção do NAL [Novo Aeroporto de Lisboa], também não são do exato
conhecimento público, embora na altura tal possibilidade tivesse sido
divulgada. A Ordem dos Engenheiros não é insensível à falta de capacidade
financeira do país para poder avançar com a única solução que entendemos
ser consistente e de futuro, que passaria pela construção de um
verdadeiro e adequado novo aeroporto de Lisboa (NAL), localizado nos
concelhos de Montijo e Benavente, na proximidade de Canha, no campo de
tiro de Alcochete, o que entende ser a única justificação para que
possamos aceitar a decisão, muito embora esta fundamentação tenha sido
muito pouco demonstrada. na verdade, e frisando a falta da intervenção da engenharia portuguesa
na análise da situação, acabamos por nem sequer chegar a saber quanto
poderia ter custado uma outra qualquer alternativa, porquanto os
interesses da concessionária desde muito cedo se viraram para a
reconversão da BA6 [base aérea do Montijo], tudo tendo sido feito nesse
sentido. Também é unânime a aceitação da evidência de que a solução Montijo irá
atingir a saturação muito antes do prazo de concessão terminar, nada se
sabendo do que nesse caso poderá suceder, nem que o contrato contempla e no fundo, a Ordem dos Engenheiros entende referir que nunca houve
informação suficiente sobre os estudos foram feitos e sobre o que em
relação ao financiamento e a nova soluções ficou acautelado no contrato
de concessão da ANA, sobretudo a demonstração de que não haverá esforço
público (dos contribuintes).